quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Who knew.

Eu podia me acostumar com isso. Acordar sem pressa, ir até a sacada e ver o movimento da rua nascer, crescer e morrer. Por meu calção azul e ir até o banheiro tomar uma ducha quente, escovar os dentes e voltar preguiçosamente pelo corredor estranhamente familiar. Desunir as camas, arrumá-las enquanto separava o dinheiro pra ir até a lanchonete tomar um suco, um milkshake ou talvez uma vitamina. Eu estava me acostumando com isso. Eu via a inocência naqueles olhos, a mesma que todos viam. Mas quando as luzes se iam, não era mais o ar do desconhecido, e sim o fogo que ardia. Pelas veias, passeavam dedos e palavras baixas, altas, moderadas.  Eu observava fascinado as rugas nas bochechas ao menor sorriso. Eu via tudo o que eu deveria ver, e via mais. Anotava em meus cadernos como a pele era macia, como cada gesto parecia ser divino. Eu via tanto, eu observava, eu catalogava, eu explorava, testava, eu amava, mas amava tanto, tanto, tanto, que esqueci de mim.


Ainda bem que quando lembrei, não era tarde demais.

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