sábado, 9 de janeiro de 2010

Círculo de memórias.

Com tanta dor pra sentir, escolheu a dor do outro. Era estranho no começo, como todos são no início. Se tratavam assim e fim. As coisas estavam sem rumo, não tinha mais porque ser. Mas foi. E foi bom.
O sol e a lua começaram a aparecer com frequência pela janela que passava lentamente a cada dia ficar mais aberta. As coisas começavam a ficar comuns, estranhamente comuns. Presença. Palavras. Abraços. Olhares. E assim foram, por algum tempo. E foi bom.
Um dia alguém se sentiu só. Tão só, que nem tardes chuvosas e as coisas supérfluas adoradas pelos mundanos seriam capaz de aniquilar. O ser olhou no olho do outro e deu os ombros: Se fez seu, resolvendo ambos serem sozinhos juntos.
Se surpreenderam: Haviam esquecido. Não lembravam, que em seus peitos estavam presos rebeldes bombeadores de sangue, armados até as falanges. Incontroláveis, caíram no poço. Se apaixonaram.
Não era tão ruim assim afinal. Um brinquedo diferente, que fala, vê e sente. Se acostumaram. A grama da vizinha começou a crescer no verão. A vizinha tinha dreads e tatuagens, fumava 5 carteiras de cigarros por dia. Gostava de Bob Marley.
Andar de mãos dadas agora era tão piegas! Os bolos da padaria endureciam, as polpas de fruta perdiam a validade. Oh. Tudo parecia boring e ao mesmo tempo o mesmo, diferentemente o mesmo. Tudo.
Um dia voltaram do supermercado após comprar chinelos. Um comprou a cor branca, o outro ser humano comprou a preta. Eram opostos, número 1 observou. Sim, metades da laranja, pares de sapato! Ou era como ele pensava.
Número 1 chegava cansado do trabalho, depois de tanto servir milkshakes, sucos e bolos doces e salgados. Havia muitas moscas lá. Número 1 se sentou e viu que o 2 estava fumando cigarros na varanda. Deu de ombros.
Número 2 estava com sono, mas aceitou. Foi.
Número 1 chegou em casa e encontrou. Os pássaros nem cantaram ainda e sua Jenniffer estava na cama com uma mulher cheia de dreads e tatuagem. As duas fumavam juntas um cigarro estranho e sorriam alto, até constatar a presença de Arnaldo, vulgo número 1, que saiu pela porta chorando e dando risadas de desespero.


Com tanta dor pra sentir.


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