sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O rio corre sem pressa, como sempre. Ambos de cenho franzido, entram homem e mulher em meio a natureza, as armas a postos, o diálogo pensado. Sentam sobre as pedras, os minutos de silêncio correm. Ele pigarreia e atira.

- Está frio. 
- Minha boca está dormente. Me beija ?
- É... inverno.- Ele sorri. Se aproxima dela e lhe dá um selinho rápido, se afastando um pouco porém sentando em uma pedra mais próxima.
- Sorvete de casquinha. - Ela comenta. Olha o rio, o fluxo constante.- 
- Desculpe? - Mais cenho franzido.
- Algo bom porém surreal. Termina em cinco minutos.

- Você me assusta. - Ele ri baixo, encolhendo os ombros, lembrando.

- São como os seus beijos. - Ela levanta segurando impotente a sua arma entre as mãos firmes.
Estremece. - Meus beijos te assutam? - Um lampejo de inocência, uma pequena ferida aberta. Ele se encolhe mais, quase se abraça por dentro.
Ela sorri. - Não. São como sorvetes de casquinha. - Ela vira olhando-o firme nos olhos quase queima quando encontra os dele e vira-se rapidamente mudando de assunto. - Quer um cigarro ?
Calor. Alívio. Ferida sarada, um olhar. - Não fume. - Ele firma a voz e decreta. A observa em pé, se levanta também. A puxa pela cintura, prende seus braços ao redor dela como uma corrente.
Semblante sarcástico o encara. - Pensei que detalhes pessoais estivessem superados. - Ela sorri. Seu corpo treme com o toque das mãos dele e ela prende a respiração. 
- Apenas casais tem algo pra superar. - Ele inspira. Ele prende mais seus braços, o medo das palavras impensadas. Ele baixa o rosto e encosta a testa no ombro macio, respira o cheiro.

Ela fecha os olhos com força e se solta dele. - Amantes não-correspondidos também. Desculpe, preciso fumar agora. - Com a mão trêmula acende o cigarro com imagens dançando em sua cabeça.
Puxa de volta. Agarra o cigarro e se queima, dor física sem importância. A abraça de volta. - Só.. Por favor. - Engasga. Encosta a testa na dela, calafrios. Aqueles olhos escuros cheios de perguntas, a respiração próxima. - Por favor.
Assusta-se. Seu corpo inteiro parece queimar em segundos, fecha os olhos firmemente sem querer acordar. Pigarreia e mantém-se imóvel, os braços soltos envolvidos pelos dele parecem sem vida. - Termine logo com isso. Diz com pesar.
- Pra terminar, eu preciso começar. Não que eu vá terminar, mas eu quero começar. - Pigarreia, engasga, gagueja. Observa o rosto dela pálido. A aperta, a trás para seu calor, olha na escuridão dos seus olhos. As palavras não saem, ele fecha os olhos. -
- Começar ? - Deixa escapar um sorriso porém lembra que não são um casal. - Falei sobre o que viemos fazer aqui. - Diz em voz baixa, relutante.
- Para você rir de mim. - Ele mostra os dentes, compõe o rosto. Em seu núcleo, destroços.


Risos.



Por: Jacob Eliachar e Eduarda Briara.

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