sábado, 14 de agosto de 2010

Essa não é uma bela história.

          Volto novamente pra aquela noite, na verdade, sou transportado pra lá. Isso sempre acontece quando o sol se põe. Minha Laurie está lá. No entardecer. Seu corpo cheio de vida, atlético até para uma menina de 9 anos, dispara pelo quintal em meio segundo, seus lábios e dentes quase sempre repuxados e expostos.. A sorrir. Essa era minha Laurie. Observo uma carcaça cheia de sangue ser trazida à minha memória, sem vida, um corpo sendo colocado sobre a calçada... Reconheço os cachos dourados sendo puxados pelos paramédicos, puxando minha nenén feito a carcaça de um cachorro, a levando pra aquele carro fúnebre, tirando-a de mim...
         
          Mas hoje, agora, nesse momento, eu posso chorar.

          O sorriso que aparece em meus lábios e reflete na vitrine da loja de espelhos, me é completamente estranho, molhado e envolvido por minhas lágrimas. Ainda voltando no tempo, o espelho reflete ao meu lado o sorriso puro, inocente e desdentado de Laurie. Vejo minha anjinha correndo pela casa com seus cachos, alinhados, caindo na altura dos ombros... O que me assusta, me alerta, como minha anjinha está crescendo.. Estava, crescendo.

          Me ergo dali, feliz.

          Minha justiça foi feita. O bicho-papão está morto, meu anjinho. Sem medo de deixar provas, pouso minha arma no rosto do lixo, nas rugas do terror. Estou pleno e estando assim, não me contenho e continuo a chorar e rir. Minha justiça foi feita.

1 comentário:

  1. Que trágicômico, Jacob! Valei-me! Oi Vá Voi (D'us me livre, em hebraico)! Mas belamente escrito. Faz o sangue aquecer-se nas entranhas. Leve e suave, suave e leve... à frente e avante!

    ResponderEliminar