segunda-feira, 29 de março de 2010

Inevitável.

Não hesitei quando ela estendeu a mão. Nossos dedos se encaixaram tão perfeitamente, como se os 4 elementos finalmente estivessem juntos. Mas sempre tivemos a consciência que era só ela e eu, apesar de toda a magnitude disto. Impossível de tão bom. Hoje retomei a rotina, os ovos fritos ficaram bons como sempre ficam, o leite estava no ponto certo, pela hora exata que o tirei da geladeira. Está tudo no lugar. Repassei logo que acordei, toda aquela felicidade que senti antes. Isso parece desinteressante, então é preciso que se complemente certos fatos a toda essa rotineira solidão, porque, sabe, nem sempre foi assim. Vejamos então como se desenrolou.

O que se esperava? Quais reações seriam as certas para a ocasião?
A chuva caía forte, o vento que a acompanhava se faziam de açoite. Eu me sentia sendo chicoteado. Por um chicote de gelo. Encolhido, ri nervoso enquanto aproveitava algumas pedras achatadas e grandes que se faziam alheias ás milhões de poças que se formavam enquanto o temporal se desenrolava. Eu sabia que o sentimento de estar sentido chicoteado era puramente mental, por mais que fossem gotas decididas e fortes de água, jamais teriam a capacidade de me machucar. Nem se fossem bolas de fogo, ou de ferro. Saltando de pedra em pedra, deixei minha mente vagar como sempre enquanto ao mesmo tempo mantinha minha atenção ao caminho gentil e inusitado que eu percorria. Olhei a frente, buscando um fim pra rua que parecia nunca acabar. Ao lado do poste-que-passa-a-noite-toda-piscando, havia uma sombra. Meu primeiro reflexo foi rir, ao constatar que a forma saltava sobre as pedras com a mesma agilidade que eu, até com o mesmo jeito infantil com o qual eu escolhia a maior pedra. O riso dela ecoou e chegou até mim, assim com o meu foi até ela, eu presumo.
Com certeza era ela. Duvido muito que qualquer um, com uma visão extraordinária ou não, deixaria de ver o tom feminino da figura. Os cabelos longos se moviam junto como ondas, a cada movimento que a mesma fazia. Apesar da chuva, pareciam ostentar o mesmo peso e brilho até a altura dos ombros, acompanhando perfeitamente o comprimento pequeno de sua estrutura. A sombra mantinha o sorriso, e com a nova proximidade fui permitido admirar as covas nos cantos de sua boca. Um raio gigantesco fez tudo brilhar, esquecemos do atalho pelas pedras e corremos. Mesmo com o trovão estrondoso que o seguiu, não consegui conter os risos que faziam todo meu corpo chacoalhar. Nos abrigamos debaixo de uma cobertura de uma casa qualquer, ela e eu, rindo sem parar. O espaço pequeno fez meus braços roçarem, o perfume dela no ar fez meus dentes rangerem famintos. Fazia um bom tempo que eu não me alimentava.
Ela me abraçou com força, e arquejei surpreso.

- Me protege? - Sussurrou ela pra si mesma, incosciente da minha audição extraordinária.
 Mal sabia ela que já havia me disposto a fazê-lo até o fim dos meus dias.

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