quarta-feira, 31 de março de 2010

Subscrito.

A chuva não ajuda a lidar com o tédio. Dormir, parece ser uma opção cada vez mais atraente, mas eu preciso nesse exato momento convencer a mim mesmo de que sou fábula. A vontade aumenta, mas ainda bem que tenho alguns anjos que mesmo dormindo aconchegados feito nenéns no cobertor branco, pois sem eles eu seria só mais um rei desprotegido, um pão embolorado sem bolor, chuveiro sem água. Mais ou menos essas coisas.


E parece que todo mundo tão empolgado só aumenta essa decadente depressão.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Inevitável.

Não hesitei quando ela estendeu a mão. Nossos dedos se encaixaram tão perfeitamente, como se os 4 elementos finalmente estivessem juntos. Mas sempre tivemos a consciência que era só ela e eu, apesar de toda a magnitude disto. Impossível de tão bom. Hoje retomei a rotina, os ovos fritos ficaram bons como sempre ficam, o leite estava no ponto certo, pela hora exata que o tirei da geladeira. Está tudo no lugar. Repassei logo que acordei, toda aquela felicidade que senti antes. Isso parece desinteressante, então é preciso que se complemente certos fatos a toda essa rotineira solidão, porque, sabe, nem sempre foi assim. Vejamos então como se desenrolou.

O que se esperava? Quais reações seriam as certas para a ocasião?
A chuva caía forte, o vento que a acompanhava se faziam de açoite. Eu me sentia sendo chicoteado. Por um chicote de gelo. Encolhido, ri nervoso enquanto aproveitava algumas pedras achatadas e grandes que se faziam alheias ás milhões de poças que se formavam enquanto o temporal se desenrolava. Eu sabia que o sentimento de estar sentido chicoteado era puramente mental, por mais que fossem gotas decididas e fortes de água, jamais teriam a capacidade de me machucar. Nem se fossem bolas de fogo, ou de ferro. Saltando de pedra em pedra, deixei minha mente vagar como sempre enquanto ao mesmo tempo mantinha minha atenção ao caminho gentil e inusitado que eu percorria. Olhei a frente, buscando um fim pra rua que parecia nunca acabar. Ao lado do poste-que-passa-a-noite-toda-piscando, havia uma sombra. Meu primeiro reflexo foi rir, ao constatar que a forma saltava sobre as pedras com a mesma agilidade que eu, até com o mesmo jeito infantil com o qual eu escolhia a maior pedra. O riso dela ecoou e chegou até mim, assim com o meu foi até ela, eu presumo.
Com certeza era ela. Duvido muito que qualquer um, com uma visão extraordinária ou não, deixaria de ver o tom feminino da figura. Os cabelos longos se moviam junto como ondas, a cada movimento que a mesma fazia. Apesar da chuva, pareciam ostentar o mesmo peso e brilho até a altura dos ombros, acompanhando perfeitamente o comprimento pequeno de sua estrutura. A sombra mantinha o sorriso, e com a nova proximidade fui permitido admirar as covas nos cantos de sua boca. Um raio gigantesco fez tudo brilhar, esquecemos do atalho pelas pedras e corremos. Mesmo com o trovão estrondoso que o seguiu, não consegui conter os risos que faziam todo meu corpo chacoalhar. Nos abrigamos debaixo de uma cobertura de uma casa qualquer, ela e eu, rindo sem parar. O espaço pequeno fez meus braços roçarem, o perfume dela no ar fez meus dentes rangerem famintos. Fazia um bom tempo que eu não me alimentava.
Ela me abraçou com força, e arquejei surpreso.

- Me protege? - Sussurrou ela pra si mesma, incosciente da minha audição extraordinária.
 Mal sabia ela que já havia me disposto a fazê-lo até o fim dos meus dias.

sábado, 27 de março de 2010


Lados, lábios. Ser habitante e habitado.
Incompreendido, mal interpretado.
Só, só.
Cada gota, cada molécula.
Lágrimas, prazer, suor.
Suando, lacrimejando, sentindo.

O finalmente final pareceu tão triste. E nem um pouco hilário. O comediante, não riu por último. Tudo chacoalhou e balançou, há burburinhos. Nem tudo sempre precisou fazer tanto sentido como agora, enquanto todos observando. Nem tanto sentido assim. Sentindo assim.


Interpretar.
Sem precisar, sem ser blasé a cada riscada. Sem precisar ser.
Saber e ter um novo amanhã, um novo dia.
Inovar.
Bandeiras, dinheiro, regras.
Até o sistema se quebra algum dia.
Acordar.
O diferente, não é mais diferente. É apenas igual.
E os poços de antes lágrimas, agora lembranças.


A chuva afinal não lavou só a alma.
E suando, soltando e quebrando...
Vivemos...
Em tempos...
De loucos.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Deixe que sim, pois, não, a realidade sim me irrita.
Brotou sem saber porque, sem ter pra que, ausente de licença. Se instalou como doença, revigorou e chamou pra dançar, cheia de teias e coisas pra contar. Se cegou de lacres seguros, datas de validade e toda essa trivialidade.


"É lindo, esse feitio todo. Compactação."
"Você, de volta."


Tudo o que pensei era lenda, mito. O verdadeiro eu estava atrás do espelho sorrindo ao meu achar de defeitos.
Ultimamente era apenas o que estava a se reservar a viver. Precisar, ter e cogitar resistir era poder se enxergar ou passar por algo parecido a ter e amar. Uma faxina interior talvez não caísse tão mal quanto merecer as pequenas atitudes contra o pior inimigo enfestado de joio e trigo. Nós mesmos.


Canapés e uma banana.

sábado, 20 de março de 2010

E finalmente, finalmente...

A realidade consumiu tudo o que restava. Lembranças, abraços e sorrisos simplesmente se lavaram com toda aquela enxurrada de sábado. Muito diferente dela, a castidade implorou por misericórdia, mas não houve.

Espelho, espelho meu... Existe alguém?


Os dedos calejados praticamente gritavam socorro, mas bravamente sustentaram tudo o que teriam que sustentar. Afinal, porque se daria o luxo de escolher enquanto todos apenas gritavam para que o mal se desfizesse? Bem, bem, quem se daria o luxo de questionar? Atrevidamente, assumiu seu posto na cadeira de prata e se deu por tímida. "Renda-se!" Gritavam. Apenas eram respondidos com aquele sorriso que refletia o sol da esperança e paciência. Teria tudo aquilo um fim, no meio do ciclo? Espiaram pelas frestas, bestas cheias de testas prontas pra que os olhos se abrissem.

Mundos encantados, pra que a dor se espalhe tênue...
Salvem os viciados!

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sou eu, assim.

Eu realmente não deveria...

Sério, ninguém nunca te disse que a vida é injusta?

Não estar dentro dos padrões...
Eu preferia mesmo, estar nu de mim. Estaria bem, lidaria bem com tudo isso, se todas as cores não se concentrassem num ponto só, todo o sentido não se fizesse nesse ponto só, se toda minha vida não girasse ao redor desse ponto só... O centro do universo, nesse ponto, e só.

Eu aceitaria tudo isso, multiplicado mil vezes, e agradeceria.

Que tira toda minha alegria de descansar em casa. Que quando os dentes se mostram vivos, meu peito bate forte e meus planos todos vão por água abaixo. E fica tão difícil pensar. E sempre se torna tudo tão frágil, eu me torno vidro quebradiço, e em uma das suas mãos está uma salada de frutas, e na outra o martelo que sempre causa minha destruição... Você me estende o morango, porque sabe que gosto dele. E mesmo que doa tanto, tanto, me vem ás vezes na cabeça em fazer promessas, em ser um ser humano melhor.

Não consegue ver que por mais que eu diga que não vou... Eu já mudei por você?

Sim, eu não seria tão triste assim. Mas a hora de ir, parece sempre... Alcançável. Já experimentei, sabemos o quanto é fácil se perder por todas aquelas ruas que realmente, realmente são tão familiares... O quanto é fácil se perder lá. Aí. Aqui. Ou simplesmente perto, é tão fácil ser você mesmo, com os olhos tão perto...

E a solidão é o meu pior castigo...

E eu conto as horas pra poder te ver.