quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bella.

- Tá, calma. Espera. Ok. Chega. Tô morto. - Deixei sair entre bufos enquanto buscava o ar, com dificuldade. Caí sentado no chão, sentindo minhas pernas meio trêmulas. Ela se aproximou, também ofegante, e se aninhou ao meu lado como de costume.
Sempre achei meio estranho o fato dela sempre me encarar e virar levemente o rosto de lado quando ouvia a minha voz, o que quer que estivesse falando. Seja brigando e gritando, pelo fato dela não poder ver uma roupa estendida no varal e sair pulando e puxando, para rasgar, babar e morder depois. Até mesmo quando eu sussurrava baixinho alguma coisa, distraído, enquanto escrevia sentado na pia, ela me olhava curioso. Aquele olhar... Era como se ela tentasse entender algo. Me entender, no caso. Ela só ficava longe de mim, quando eu chorava. Não sei bem o que acontecia, mas parecia que ela ficava fingindo que não me via. Dava umas voltas, cheirava o chão... E só quando eu realmente enxugava meu rosto e sorria por ser tão bobo (eu quase sempre abro um grande sorriso depois de chorar bastante) que ela se aproximava, ainda meio desconfiada e lambia minha orelha, ou meu pé, ou minha mão.
Eu geralmente tinha as tardes livres, mas eu não sei exatamente porque, eu passei exatamente essa tarde toda brincando com ela. Corríamos pela casa, eu jogava coisas pra ela pegar, (ela nunca trazia de volta, só cheirava e vinha novamente pra perto de mim) e eu ficava rindo dela tentando pegar o próprio rabo. Depois de brincarmos bastante, ficamos ali sentados, sentindo a brisa, em silêncio. Levei minha mão até a orelha dela e a cocei, e como uma carente de carteirinha que era,(temos isso em comum) ela se derreteu toda, se esparramando no chão. Suspirei, lamentando a hora de ter que entrar e me ergui, me direcionando ao portão. Como sempre, ela saiu em disparada em minha frente, trombando em minhas pernas pra me esperar bem ao lado da grade. Ela sempre tinha essa vã esperança de que eu a deixaria entrar.
- Amanhã a gente brinca de novo bebê. Vai dormir. - Disse, enquanto fechava o portão. E ela virou o rosto de lado e me encarou, como sempre, com seus gigantes olhos cor de mel. Latiu pra mim e saiu correndo, pra se juntar ao resto da gangue. E eu, fui pro meu quarto.

Sem saber que não haveria como brincarmos amanhã.

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