quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Toc, toc, toc. Foram decididas, batidas fortes. Fortes o suficiente pra que eu me levantasse do sofá de súbito, me apoiando apelas pelas mãos, e decidida o bastante pra fazer minha coluna e costas se arrepiarem de temor. Prestei atenção. Havia uma respiração nervosa atrás da madeira da grande porta da sala, e ela era inquietantemente sincronizada à minha. Acelerada, perdendo o compasso.
Meus nervos dispararam, alertos. Minhas pernas, meus dedos, cada pedaço do meu corpo vibrava de curiosidade pelo visitante inesperado. Atordoante. Era algo que nem tentei conter, tão natural como minha respiraçãoa alterada, tão inevitável quanto meu coração batendo em meu peito. A vibração em meu corpo pareceu me preencher por completo, irradiando por meu corpo, acentuando as cores dos móveis, deixando os cheiros mais precisos e distinguíveis. Meus dedos se apertaram no sofá enquanto meu corpo deliberava em ir até a porta e abrí-la. A ponta da minha pele sentiu as costuras do sofá, imaginei em minha cabeça a forma como milhões de fios se uniam pra compor o móvel, a costura, senti as cores da renda em meus dedos.
E natural como viver e inevitável como partir, me levantei apressado e dei uma corrida ágil até a grande porta. Girei a maçaneta apressado e a abri. Com a porta aberta, ali estava a Vida. Eu sabia que teria que percorrê-la pra encontrar quem havia batido na porta, quem havia me chamado.
Era um caminho comum, havia uma vegetação ao redor do mesmo. Uma trilha, era o que era. A trilha parecia fazer meus pés se moverem, e quando vi estava no meio da mesma. Logo a frente era tudo embaçado, o caminho ia aparecendo à medida que eu caminhava. Era estranho, mas socos me atingiam no rosto várias e repetidas vezes. Ás vezes os golpes fulminantes me davam uma absurda vontade de chorar e de rir, e eu os executava sem mesmo pensar antes. Eu não precisava respirar.
Podiam ter sido dias, horas, meses. Mas foram anos, anos andando. Muito tempo. Mesmo com a parte do choro e dor, me senti em êxtase ao fim do caminho. Não havia mais o que percorrer, e eu estava tão pleno que faria Rapell sem os equipamentos, me jogaria nas cataratas do Iguaçú ou bem ali mesmo na Ponte da amizade.
No fim do caminho havia um grande espelho, e de dentro dele, eu saí. Eu me cumprimentei meio aflito, era a primeira e única vez que isso acontece/aconteceu/aconteceria. Sorri a mim mesmo, pois afim sabia que havia encontrado quem havia batido na minha porta. Me dei as mãos e meus pensamentos, meus olhos e minhas células pareceram finalmente se sentir em casa. Com um último suspiro, disse.
- Vem.

E então eu fui.

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